segunda-feira, julho 17, 2006

Informação ou imagem?

Publicado no Diário Económico a 13/10/2005

A economia é a ciência das escolhas. Neste passado domingo, os portugueses foram confrontados com uma opção tão difícil como importante – a escolha de governantes. Alguns dos resultados dessas escolhas foram particularmente surpreendentes. Dois estudos recentes investigam a forma como as pessoas votam (embora não a questão paralela de como devem votar) e talvez ajudem a perceber o que se passou em Portugal.

No primeiro estudo, os economistas Stefano Della Vigna e Ethan Kaplan da Universidade da Califórnia em Berkeley analisam a influência dos media no comportamento eleitoral. Della Vigna e Kaplan observam o impacto da introdução do canal de notícias Fox News nos hábitos de voto dos eleitores dos EUA. Fundada em 1996 pelo magnata Rupert Murdoch, a Fox tem como objectivo explícito combater a percepção de que os media tradicionais estão alinhados com a
esquerda e competir com a CNN. A Fox assumiu-se sempre como o canal da direita americana – o lema da estação é oferecer uma cobertura “justa e equilibrada”.

A Fox é transmitida por cabo. Como cada operador local de cabo pode apenas transmitir um número limitado de canais, acrescentar a Fox à grelha de emissão foi mais fácil nalgumas zonas e mais difícil noutras, dependendo do espaço existente. A entrada da Fox nas diferentes regiões do país teve por isso de ser gradual, e ainda hoje não foi completa. A ideia destes dois economistas foi usar esta variação para compreender o efeito da Fox nas escolhas eleitorais. Comparando zonas que nas eleições presidenciais de 2000 recebiam a Fox com as que não recebiam, Della Vigna e Kaplan perguntam se nas primeiras o partido Republicano ganhou mais votos. A resposta surpreendente é não: não houve qualquer efeito. Na melhor das hipóteses, a introdução da Fox aumentou os votos de George W. Bush em apenas 0.3%.

O que explica este resultado? Talvez os eleitores não se deixem influenciar, conscientes das tendências dos media. Ou talvez o resultado seja fruto de um processo diferente: não só os eleitores republicanos se mobilizaram com esta nova fonte de notícias, mas também os democratas se mobilizaram para combater o que entenderam ser propaganda. O efeito combinado de ambas as acções foi zero.

O que afecta então as escolhas dos eleitores? No segundo estudo, publicado na revista Science de Outubro, um grupo de psicólogos da Universidade de Princeton – Todorov, Mandisodza, Goren e Hall – concentram-se nas eleições locais americanas para o senado e congresso. Todorov e colegas mostraram a 843 pessoas as fotografias a preto e branco dos dois candidatos a cada distrito e pediram-lhes para escolher em quem votariam. Os entrevistados não conheciam os candidatos e tinham como única informação as fotografias. No entanto, as suas escolhas reviram acertadamente o resultado das eleições cerca de 70% das vezes! Os investigadores perguntaram de seguida que impressões as fotografias transmitiam quanto à competência, inteligência, honestidade, carisma, e simpatia dos dois candidatos. Surpreendentemente, apenas a imagem de competência determinou a escolha de voto.

Tendo em conta os resultados das eleições autárquicas, vale a pena reflectir sobre esta informação. Estes estudos sugerem que o esforço de persuasão de colunistas ou comentadores televisivos talvez tenha pouco impacto. Por outro lado, uma boa fotografia de campanha vale votos. Apesar de terem quase toda a comunicação social contra si, Valentim Loureiro, Isaltino Morais e Fátima Felgueiras nunca descuidaram a sua imagem e cobriram Gondomar, Oeiras e
Felgueiras de cartazes com as suas fotografias. Terá sido esse o segredo do seu sucesso? Se o novo cabelo loiro e bronzeado de Fátima Felgueiras simbolizaram “competência” nestas eleições, a sua viagem ao Brasil foi duplamente providencial.

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