segunda-feira, julho 17, 2006

Licenciado, e agora?

Publicado no Diário Económico a 11/7/2006

Por estes meses, uma nova vaga de alunos conclui a sua licenciatura em Portugal. Terminados os exames, com as fitas já queimadas e os pais orgulhosos em casa, a maior parte vai agora procurar o seu primeiro emprego.
Todos procuram um trabalho que lhes traga satisfação, segurança e um bom salário. No entanto, parte do sucesso na entrada no mercado de trabalho depende de circunstâncias que os jovens não controlam. Uma delas é o estado da economia. Presentemente, em Portugal, a taxa de desemprego em Maio era 7,5%, 0.1% abaixo do valor de 2005, que era o mais alto desde 1986. O PIB em Portugal nos últimos 6 anos cresceu abaixo da média europeia.
Nestas circunstâncias, é de esperar que demore mais tempo a arranjar o primeiro emprego. Em simultâneo, receosos de ficarem muito tempo sem encontrar trabalho, os jovens provavelmente contentam-se com salários mais baixos. Mas, qual é o tamanho deste efeito nos salários? Outra questão é a sua persistência. Como as recessões económicas não costumam durar mais do que 2 ou 3 anos, seria de esperar que o azar de acabar o curso nesta altura não durasse muito. Mal a economia recupere, basta procurar emprego de novo, agora com melhores hipóteses e melhor salário. Se os efeitos das recessões são apenas temporários, então os seus custos serão limitados. Mas será que os efeitos são temporários?
Um recente estudo de Oreopoulos, van Wachter e Heisz investigou estas duas questões usando dados de jovens canadianos. Os investigadores conseguiram acesso a dados cruzados das universidades, dos trabalhadores, e dos empregadores. Estes permitem-lhes acompanhar com precisão a experiência profissional de 70% dos licenciados que acabaram o seu curso entre 1976 e 1995 no Canadá. Durante este período, ocorreram duas recessões, uma no início dos anos 80 e outra no início dos anos 90.
Uma das inovações neste estudo é explorar o facto de o Canadá estar dividido em províncias, entre as quais há pouca mobilidade de pessoas. Quando a taxa de desemprego no país sobe, a intensidade do aumento do desemprego é diferente nas diferentes províncias e nalgumas pode mesmo não ocorrer. Os investigadores podem por isso usar esta variação para distinguir o efeito de um aumento na taxa de desemprego numa província na experiência profissional de um jovem que acabou o seu curso nessa província. Porque têm dados que cobrem vários anos, podem identificar o efeito das recessões nos anos que se seguem. Porque têm dados que cobrem indivíduos em diferentes províncias, podem distinguir o efeito de recessões mais leves ou mais violentas.
Oreopoulos e os seus colegas descobriram que acabar o curso durante uma recessão, na qual a taxa de desemprego sobe 5%, leva, em média, a um salário 9% mais baixo. As recessões não afectam apenas os desempregados: os que encontram o seu primeiro trabalho ganham muito menos. Para além disso, 5 anos depois, o salário de quem entrou no mercado de trabalho durante uma recessão é ainda 4,5% mais baixo do que se tivesse encontrado o primeiro emprego durante uma expansão. Só ao fim de 8 a 10 anos é que o efeito se torna negligível. As recessões são temporárias, mas as cicatrizes que deixam são persistentes.
De seguida, os investigadores contrastam a experiência de diferentes grupos de jovens. Em primeiro lugar, comparam os jovens que entram no mercado de trabalho pela primeira vez e os jovens que já tinham sido empregues antes e descobrem que os efeitos negativos das recessões são quatro vezes maiores para os primeiros. Em segundo lugar, comparam os jovens com cursos que em média levam a salários mais altos (por exemplo, medicina) com os que levam a salários mais baixos (por exemplo, literatura). Para os primeiros, a queda inicial de salário é 7,5%, mas 4 anos depois já só é 2%. Para os segundos, o efeito inicial é o dobro, 15%, e só ao fim de dez anos alcança os 7,5%. As recessões acentuam a desigualdade, prejudicando mais aqueles que ganham menos e os que não têm experiência profissional.
As recessões não são apenas curiosidades económicas. Têm custos reais que são grandes e persistentes. Quem sofre mais são os mais vulneráveis: os jovens e sobretudo os que não têm experiência profissional e escolheram cursos com menos potencial de rendimento. Licenciado, e agora? Talvez valha a pena ir para uma pós-graduação e esperar que a economia melhore…

Sem comentários: