sábado, abril 05, 2008

Porque tantos odeiam Hillary?

Publicado no Diário Económico a 12/02/2008.

Hillary Clinton é hoje uma das figuras políticas mais polarizadoras nos EUA. Muitos adoram-na mas tantos ou mais odeiam-na. Quando se pergunta em sondagens qual dos três candidatos a presidente (Clinton, Obama e McCain) é que as pessoas menos gostariam de ver ganhar, ela aparece à frente a uma distância larga.

A pergunta que mais me têm feito de Portugal nos últimos meses é: porque é que tantos odeiam Hillary Clinton? Estou fora do meu elemento a escrever sobre política em vez de economia, mas na qualidade de residente informado nos EUA decidi tentar responder.

O meu método nesta investigação foi fazer esta pergunta a vários amigos afiliados com o partido democrata e com alguma experiência política. Todos concordaram que muito do ódio vem de pessoas contra a ideia de ter como líder uma mulher rija, ambiciosa e determinada. Mas a desaprovação de Clinton está bem instalada também entre pessoas razoáveis e inteligente. Ela explica em parte porque é que Barack Obama tem ganho a Clinton sucessivamente entre as camadas da população com mais rendimentos e anos de educação.

Um dos problemas de Clinton é os sucessivos escândalos em que se tem visto envolvida. Alguns vêm de longe: em meados dos anos 80, Hillary trabalhava na sociedade de advogados Rose Law que se envolveu em várias actividades ilícitas. Hillary negou a sua ligação a estes casos, e quando os investigadores lhe pediram os seus documentos de trabalho dessa altura, ela afirmou que eles já não existiam. Só que, por acaso, em 1996 uma secretária da Casa Branca descobriu os tais documentos na secção das coisas pessoais da primeira-dama. Outros escândalos são mais recentes: no último dia da presidência de Bill Clinton, ele perdoou Marc Rich, que andava foragido à justiça há mais de 20 anos. Quando os repórteres investigaram a razão deste perdão extraordinário e sem justificação aparente, descobriram que Rich e a sua ex-mulher tinham doado $70.000 para a campanha de Hillary a senadora. Por fim, outros escândalos são quase ridículos: em 1979, Hillary investiu $1.000 no mercado de futuros de gado e ganhou $100.000 em 10 meses, tentando justificar estes ganhos extraordinários com boa sorte.

Depois destes (e mais alguns) escândalos, é difícil não ficar com a ideia de que Hillary Clinton tem uma relação difícil com a verdade e com o dinheiro. Em comparação, os escândalos recentes com a licenciatura e os projectos de José Sócrates são ‘fait-divers’.

Outro problema com Clinton é que a sua única experiência governativa foi um desastre completo. Entre 1993 e 1994, Hillary esteve à frente do maior projecto da presidência de Bill Clinton: a reforma do sistema de Saúde. Este foi também o seu maior fracasso. Hillary não conseguiu que o congresso e o senado aprovassem qualquer mudança, e a sua campanha foi de tal forma impopular que levou a enormes perdas do partido democrata nas eleições para o congresso apenas dois anos depois da vitória de Bill nas presidenciais.

O professor Brad de Long da Universidade da Califórnia em Berkeley trabalhou de perto com Hillary neste projecto. A sua descrição da ‘performance’ de Hillary aqui há alguns anos foi: “Ela não teve nem uma compreensão do tópico, nem a capacidade de gestão, nem a inteligência politica para fazer o trabalho” De Long, um proeminente economista do partido democrata, concluiu que: “Não há razão para pensar que ela não será algo senão uma presidente abismal.”

Por fim, virando-me para a economia, a equipa de campanha de Hillary para estas eleições tem sido uma desilusão para os economistas democratas. A equipa é dominada por advogados aguerridos e argumentativos, mas com falta de bagagem no conhecimento técnico das questões. Os disparates que Clinton tem proposto para lidar com os problemas no mercado das hipotecas são testemunha disso.

Apesar desta desconfiança em relação a Clinton, ela pode ficar com uma consolação: existe outro candidato a presidente que foi igualmente controverso e odiado. Foi há quatro anos atrás, ele chamava-se George W. Bush, e ganhou as eleições na mesma.

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