segunda-feira, março 30, 2009

Alternativas à nacionalização

Publicado no Expresso a 28/2/2009.

A resposta mais comum à crise bancária tem sido a nacionalização dos bancos. Embora não seja uma má ideia, tem dois defeitos que me preocupam. Em primeiro lugar, receio que a reprivatização venha muito tarde. Embora todas as pessoas de bom senso defendam a nacionalização como um remédio temporário, existe o risco de ela gerar um banco acomodado e ineficiente, mas politicamente poderoso, com interesse em atrasar ao máximo a reentrada dos ventos da concorrência.

Em segundo lugar, embora a nacionalização castigue os accionistas, que perdem o investimento, os gestores, que perdem o emprego, e os trabalhadores, com a contenção inevitável, os credores ficam a ganhar. Eles cobraram ao banco uma taxa de juro alta para os compensar do risco. Mas passam a não ter risco, porque o empréstimo é agora garantido pelo Estado. Em muitos bancos, os credores investiram vinte vezes mais dinheiro do que os accionistas, sendo igualmente culpados pelos problemas actuais. Recompensá-los com a nacionalização é injusto e um perigoso sinal para o futuro.

Existem duas alternativas a considerar. A primeira, é a reestruturação do banco de acordo com os princípios que se seguem em falências. Os accionistas actuais perdem tudo (os bancos já estão falidos de qualquer forma) e os credores vêem os seus empréstimos convertidos em novas acções. Passam assim a suportar o risco, e têm todo o incentivo em melhorar a gestão do banco. O Estado não entra com um tostão, cabendo-lhe apressar legalmente a reestruturação.

A segunda, é partir um banco falido em dois. Com os activos que tenham bom valor, cria-se um novo banco, o N(ovo)BPP e o NBPN, vendendo acções no mercado a novos investidores privados, talvez com algum apoio estatal no início. Sem o fardo dos activos tóxicos, o novo banco deverá funcionar bem. Os maus activos ficam no banco velho, ao cargo dos seus accionistas e credores, mas retira-se a sua licença bancária, ficando reduzido a gerir e tentar vender estes activos de forma a recuperar algum do investimento.

Para evitar quebrar-me em dois, esta é a minha última coluna neste espaço no Expresso. Obrigado, pela atenção.

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