segunda-feira, março 30, 2009

Desafios para o euro

Publicado no Expresso a 14/2/2009.

O euro fez dez anos a 1 de Janeiro. Esta primeira década foi um sucesso macroeconómico. O euro é a moeda de referência no sistema financeiro, só comparável com o dólar no valor das transacções e reservas. A inflação tem sido estável e previsível, e a credibilidade do BCE vê-se nas baixas taxas de juro de longo prazo. Estas permitem que países como Portugal paguem menos pelas suas dívidas do que no passado, e o risco da bancarrota internacional na dívida pública do país seja menor.

Por trás deste sucesso escondem-se alguns detalhes menos confortáveis. Nos anos 90, os defensores do euro argumentavam que o comércio intra-europeu iria disparar com a moeda única. Algumas estimativas falavam no dobro ou mesmo no triplo das transacções, por ser mais simples comparar preços na mesma moeda. Olhando para trás, o comércio aumentou na zona euro, na melhor das hipóteses, uns 10 ou 15%. Os portugueses podem saber hoje com mais certeza quanto custa o pão em Berlim, mas isso não os levou a deixar de comprar papos-secos e a começar a importar pão alemão.

A outra grande vantagem do euro seria o aprofundamento da ligação política entre as nações da União Europeia. Não sendo as relações internacionais a minha especialidade, pedi a opinião a alguns académicos.

A resposta foi unânime: os últimos 10 anos ficaram muito atrás dos anos 90 em termos de integração europeia. Os falhanços de sucessivos referendos, a ausência de uma política externa coerente, e as situações ridículas em que se colocam os deputados do Parlamento europeu, foram algumas das razões avançadas.

Por fim, o sucesso macroeconómico só agora vai ser posto à prova. Nos últimos 10 anos, a política monetária conservadora do BCE não fez grande diferença no crescimento económico de uma Europa com problemas estruturais. Mas agora que entramos em recessão, continuará o BCE obcecado com a inflação mantendo as taxas de juro bem acima dos EUA? E, com a produção industrial a descer só 3,9% na Alemanha, mas uns alarmantes 11% em Espanha, irá o BCE escolher a política monetária certa para o seu maior país ou aquela que mais interessa para a maioria dos europeus?

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