segunda-feira, março 30, 2009

Expansões fiscais

Publicado no Expresso a 31/1/2009.

O Ocidente prepara-se para iniciar uma das maiores expansões fiscais de sempre em tempo de paz. Os EUA planeiam o seu maior défice no pós-guerra, a conservadora Alemanha abre os cordões à bolsa todos os dias, e até Portugal está disposto a trilhar este caminho apesar do recente esforço na redução do défice. Uma questão em aberto é se esta expansão deve ser feita aumentando a despesa pública ou reduzindo os impostos. Neste ponto, os economistas dividem-se em dois campos.

Os keynesianos preferem a despesa pública. Para eles, numa crise como esta falta a procura de bens. Quando o governo gasta €1 milhão, cria uma procura por bens neste valor. Por sua vez, o aumento da procura aumenta a produção e a riqueza, que levam as pessoas a consumirem mais, aumentando a procura, num efeito multiplicador da expansão inicial. Uma redução dos impostos em €1 milhão, em contrapartida, é em parte poupada pelas pessoas, pelo que o aumento inicial da procura é sempre inferior a um milhão. Por isso, é menos eficaz do que o aumento na despesa pública.

Os neoclássicos acham antes que o problema está na oferta. Para eles, se o governo gasta €1 milhão a construir um museu novo, isso retira recursos já de si escassos às famílias. As pessoas respondem construindo menos edifícios privados, e o produto final não se altera muito. Em contrapartida, baixando os impostos sobre o rendimento, cada hora a mais a trabalhar ou cada euro a mais investido rendem mais. A baixa de impostos estimula maior produção na economia.

Tendo em conta esta incerteza teórica, os economistas viram-se para os dados. Há alguns anos, Blanchard e Perotti estimaram que €1 a mais de despesa ou €1 a menos de impostos resultam ambos em €1 a mais no PIB. Melhores dados e técnicas recentemente levaram Valerie Ramey a medir que €1 de despesa aumenta o PIB em €1,4, enquanto Christina Romer (a economista-chefe da administração Obama) estima que €1 a menos de impostos eleva o PIB entre €2 a €4.

O plano de $1 bilião de Obama toma o meio-campo: metade vai para o aumento da despesa, metade para baixar os impostos. Vamos ver como será o plano português.

1 comentário:

George Rupp disse...

Caro Ricardo Reis, como não sou economista, não posso argumentar a nível técnico. Porém, gostaria de saber se existem estudos relativamente ao "rendimento" de despesa pública para criar infraestruturas que são auto-sustentáveis mas incapazes por si de recuperar todo o investimento feito.