segunda-feira, março 30, 2009

Previsões e 'heróis'

Publicado no Expresso a 22/12/2008.

O nosso conhecimento sobre os fenómenos económicos ainda é bastante limitado. A ciência económica tem pouco mais de 100 anos, e os seus objectos de estudo são mais complexos do que um átomo ou uma célula. As limitações da economia sentem-se sobretudo na sua fraca capacidade de previsão. Quando um economista faz uma previsão correcta torna-se um herói.

Acertar uma previsão, no entanto, implica mais do que sugerir o acontecimento. Não basta dizer que o mundo vai acabar. É preciso, primeiro, explicar de que forma vai acabar, ou seja, descrever correctamente o mecanismo ou a cadeia de eventos, assim como as circunstâncias em que esta previsão é mais ou menos provável. Segundo, é preciso acertar no "timing", ou seja, dizer quando acaba, se daqui a um dia ou daqui a 10 anos.

Milton Friedman é um dos gigantes da economia em parte porque, numa famosa palestra em 1967, previu a estagflação dos anos 70, descrevendo com precisão de que forma a política monetária da altura traria problemas. A crise actual está também a produzir os seus heróis.

O principal deles é Robert Shiller. Em 1996, ele avisou que a bolsa de valores estava sobrevalorizada. O valor da bolsa durante o último mês está precisamente no nível que Shiller previu há 12 anos. Para além disso, ele detectou em 2002 uma bolha no mercado imobiliário, e previu que uma descida abrupta no valor das casas poria em risco todo o sistema financeiro.

Existem também muitos que se fazem passar por heróis. O mais famoso é Nouriel Roubini, que tem lembrado a todos ter previsto uma crise há 10 anos. Só que Roubini previu como causa da crise o défice externo americano. Este levaria a uma perda de confiança dos investidores estrangeiros, causando o colapso do dólar. Bem pelo contrário, desde o começo da crise, o dólar tem apreciado de valor, e o influxo de capitais para os EUA é maior do que nunca. Para além isso, Roubini diz há 10 anos que a crise está iminente.

Portugal tem uma grande tradição de "velhos do Restelo" que prevêem a toda hora o fim do mundo. Quando as dificuldades surgem, correm a afirmar-se como visionários. Mas convém distinguir rabugice de sabedoria.

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