segunda-feira, março 30, 2009

Salvar bancos

Publicado no Expresso a 8/12/2008.

Os bancos recolhem o dinheiro das pessoas sem tempo para o gerir, e emprestam-no a outros com projectos rentáveis. Não é fácil entrar neste negócio de um momento para o outro; exige experiência comercial, capacidade de distinguir projectos viáveis e inviáveis, e muita vigilância dos pagamentos. Estas funções são tão essenciais quanto o uso de comboios e aeroportos. Da mesma forma que a falência súbita da CP ou da ANA levariam ao caos, também seria desastroso se o sistema bancário fechasse as portas, mesmo que só temporariamente. Daí, a necessidade de salvar bancos.

Infelizmente, os bancos são instituições frágeis, pois têm dívidas aos depositantes à ordem, mas créditos em investimentos a longo prazo. Por isso, estão expostos a crises de liquidez. Se todos tentam levantar dinheiro ao mesmo tempo, o banco não pode satisfazê-los porque tem o dinheiro empatado. Para salvar um banco de um problema de liquidez, é preciso emprestar-lhe dinheiro no curto prazo e esperar pelo fim rentável dos investimentos de longo prazo.

Se o problema não for de liquidez, mas de rentabilidade, pode-se justificar salvar o banco pela sua importância da mesma forma que cobrimos os prejuízos da CP. Salvar o banco não implica, no entanto, salvar os seus actores. O fracasso de um banco é responsabilidade dos seus accionistas, credores, gestores e trabalhadores. Salvá-los seria encorajá-los a repetirem os mesmos erros.

Castigar os accionistas e os gestores é a parte mais fácil (mas por vezes esquecida). Quando o Estado intervém com capitais públicos, deve receber acções em troca, pelo que os accionistas anteriores perdem tudo. Porque o Estado é o novo dono, pode e deve despedir de imediato os gestores.

Quanto aos credores, com a excepção dos depositantes, deve-se renegociar a dívida tal como o tribunal faria em caso de falência. Por fim, impõe-se a reestruturação da empresa, incluindo despedimentos, assim como a contenção salarial.

Salvar um banco também não implica comunismo. Tendo mantido o banco aberto e castigado os actores anteriores, o Estado deve, o mais cedo possível, vender o banco aos privados que o saibam gerir melhor.

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