segunda-feira, março 30, 2009

Princípios em crises

Publicado no Expresso a 11/10/2008.

Em dias tão conturbados, vou lembrar princípios gerais de como lidar com uma crise financeira, e avaliar o plano Paulson à sua luz:

1. Ir à fonte dos problemas. A fonte da crise é a baixa capitalização de muitos bancos, que tiveram prejuízos em investimentos arriscados e precisam agora de capital para pagar as dívidas. Há muito capital privado disposto a investir ao preço certo, como mostrou a entrada de Warren Buffet na Goldman Sachs em troca de um retorno acima de 10% e impondo condições à gestão. Se for preciso capital público, então que compre barato e ficando o Estado dono da empresa. O plano Paulson quer comprar caro e ficar sem controlo sobre os bancos.

2. Salvar a raiz da árvore, não as folhas. A raiz do sistema financeiro são os bancos comerciais que, se falirem, podem levar ao caos, bloqueando o sistema de pagamentos e reavendo empréstimos por toda a economia. Desde que se evite este cenário, os bancos de investimento e fundos variados podem ir à falência da mesma forma que milhares de empresas vão à falência todos os dias. O plano Paulson vai dar dinheiro a todos.

3. Não gastar dinheiro à toa. Gastar milhões para resolver ou adiar um problema é fácil, mas acaba por ficar mais caro do que o problema em si. Medidas a 'custo zero' hoje mas que envolvem compromissos onerosos no futuro, na esperança de que até lá tudo se revolva, também não costumam acabar bem. Gastar 700 mil milhões a comprar activos na esperança de que estes acabem por dar lucro, apesar de ninguém os querer, é esbanjar dinheiro.

4. Não recompensar quem falhou. Por azar, incompetência, ou falta de esforço, os gestores das instituições financeiras tiveram prejuízo, os accionistas não os controlaram, e os credores deram-lhes o dinheiro que permitiu os erros. Salvá-los a todos é garantir que farão o mesmo no futuro. Contrapor que a futura regulação o evitará é ignorar que a cautela é mais previdente do que a imposição de qualquer regra.

Em defesa do plano Paulson está a gravidade da crise que impunha que se fizesse algo. Mas, da última vez que foi preciso agir com urgência para evitar uma catástrofe e tudo se ia resolver em alguns meses com poucos custos, invadimos o Iraque.

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