segunda-feira, março 30, 2009

A evolução da crise

Publicado no Expresso a 27/10/2008.

Dois desenvolvimentos na crise financeira destacam-se nos últimos quinze dias.

1. Morreu o plano Paulson, nasceu o plano Paulson. O primeiro plano era uma aberração, como escreveram quase todos os académicos economistas. Uma alternativa que descrevi aqui há duas semanas seria injectar capital público nos bancos. Há poucos dias, engolindo um enorme sapo, Paulson enterrou o seu plano original e reorientou o dinheiro aprovado precisamente para esta alternativa. Embora esteja na direcção certa, o novo plano tem erros. O mais clamoroso é que permite que os bancos recapitalizados continuem a pagar dividendos, abrindo o caminho a que se descapitalizem de novo.

2. A volatilidade do preço das acções. Para quem tem poupanças investidas na bolsa, os últimos dias não têm sido fáceis. Ao fim de cada dia, o mercado perde ou ganha aquilo que normalmente perde ou ganha ao fim de um ano. Antes de culpar os gananciosos, os especuladores, ou as bruxas, convém notar que há três boas razões para esta volatilidade.

Primeiro, os problemas nos bancos levaram ao encerramento das linhas de crédito de muitos investidores. Por isso, eles têm sido aos poucos forçados a vender as suas acções, enquanto outros (com liquidez) são atraídos pelos preços baixos, levando a volatilidade.

Segundo, nos últimos dias tivemos revisões na probabilidade de uma recessão, anúncios de prejuízos em vários sectores, e novidades sobre a fragilidade de mais bancos. Estas notícias justificam a reavaliação brusca de muitas empresas.

Terceiro, o Estado americano não se tem portado bem. Um dia, a empresa X está falida, só tendo umas coisas sem valor. As acções valem zero. No dia seguinte, o Governo anuncia que lhe vai dar 10 milhões em troca dessas coisas. As acções valem 10 milhões. No dia seguinte, diz que afinal a compra tem de ir ao congresso e só será aprovada com 50% de probabilidade. As acções valem 5 milhões. O congresso aprova, mas afinal ainda se vai discutir o preço a pagar, que tanto pode ser 1 como 10 milhões. E por fim, decide que não compra nada, mas vai manter a empresa em funcionamento até que ela dê lucro novamente. A volatilidade explica-se.

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