segunda-feira, março 30, 2009

Depressão?

Publicado no Expresso a 8/11/2008.

A crise de 2008 nos EUA tem semelhanças assustadoras com a crise de 1928-29. Ambas vieram depois de uma década de prosperidade, ambas foram precedidas por uma queda no preço das casas e uma contracção no sector da construção, e em ambas a bolsa caiu a pique e o consumo retraiu-se. Mas o que transformou a crise de 28-29 na depressão de 28-40 foram os erros de política que esperemos não repetir:

1. O colapso dos bancos. Entre 30-33, dezenas de bancos faliram levando ao desaparecimento de depósitos e empréstimos e à contracção da liquidez na economia. O Fed, na altura, não fez nada e deixou a economia caminhar para a deflação. Em 2008, o Fed tem estado superactivo intervindo para evitar quedas de liquidez e baixando a taxa de juro para combater a deflação.

2. O padrão-ouro. Na altura, os governos fixavam as taxas de câmbio da moeda ao preço do ouro. Por isso, a taxa de câmbio não pôde ajustar-se em resposta aos problemas nos EUA, e a depressão propagou-se por todo o mundo. Hoje em dia, na maior parte do mundo desenvolvido, as taxas de câmbio podem ajustar-se livremente, e as quebras no valor do dólar têm atenuado a crise. Mas, na Ásia, Europa de Leste, e América Latina, há muitas taxas fixas que vão trazer problemas nos próximos meses.

3. Os cartéis e os sindicatos. Entre 33-39, persuadido pelos pedidos de empresários e trabalhadores, Roosevelt permitiu monopólios e cartéis em várias indústrias e apoiou o crescimento dos sindicatos. Como resultado, os salários dos (poucos) que tinham emprego e os lucros de algumas empresas foram bem altos, enquanto outros sofriam. Hoje, algumas intervenções apressadas dos governos para 'ajudar' o sistema financeiro, assim como alguma retórica socialista, são causa para preocupação.

4. O proteccionismo. Depois da depressão, os maiores países erigiram barreiras ao comércio internacional que só com a globalização dos anos 90 foram finalmente removidas. Pequenas economias abertas (como Portugal hoje) sofreram mais. É este o meu maior receio para a crise actual. Recuos na liberdade das pessoas e do comércio como reacção à recessão são uma forma rápida de criar uma depressão.

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