segunda-feira, julho 17, 2006

A felicidade

Publicado no Diário Económico a 7/2/2006

Quem é que não quer ser feliz? Mas o que é que nos faz felizes?
A tradição em Economia é medir a felicidade usando as escolhas das pessoas. Se eu lhe dou a escolha entre comprar o Diário Económico ou outro jornal e você escolhe o DE, concluo que o DE a faz mais feliz. As escolhas das pessoas levam-me também a concluir que riqueza traz felicidade: conhece alguém que encontrando 50 euros no chão não fica com eles? Para além disso, as suas escolhas permitem-me quantificar o valor relativo que dá aos bens. Por exemplo, se puder escolher entre 50 euros e menos uma hora com o seu esposo ou nada, então a sua resposta diz-me se uma hora com o seu esposo a faz mais ou menos feliz do que 50 euros.
Recentemente, os economistas têm experimentado usar inquéritos para medir a felicidade. Os primeiros estudos tentaram medir a felicidade global. As perguntas são variações de “Em geral, quão feliz é de 1 a 10?” Décadas a fazer estes inquéritos pelo mundo fora produziram alguns resultados. Por exemplo, dentro da maioria dos países, o número de ricos que dizem ser feliz é maior que o número de pobres que dizem ser feliz. Quando se pergunta às pessoas o que as faz feliz, a resposta mais frequente é “ter filhos”, seguida de “viajar”, “trabalhar” e “estar com amigos”.
Estes estudos têm também produzido alguns resultados desconcertantes. Nos últimos 30 anos, quase todos os países no mundo enriqueceram. No entanto, a proporção de pessoas felizes não mudou. Por exemplo, embora o Japão se tenha transformado de um país pobre numa das nações mais ricas do mundo nos últimos 60 anos, a felicidade dos japoneses não aumentou. O crescimento da China nos últimos 20 anos reduziu a fome e prolongou a esperança de vida dos chineses, mas eles não parecem ter ficado mais felizes.
Novos estudos descobriram que as pessoas avaliam a sua felicidade em relação a pontos de referência. Quando se pergunta a uma pessoa se ela é feliz, ela responde se é mais feliz do que no mês passado ou em relação ao seu vizinho. Descobriu-se que pessoas que ficaram paraplégicas são infelizes logo a seguir ao acidente, mas apenas alguns anos depois são tão felizes como os outros. Comparando países africanos com países ricos, há 50 anos eram igualmente felizes. Hoje, os mais pobres são menos felizes. Quando tentaram explicar esta mudança e o ‘timing’ em que ocorreu, os investigadores descobriram que um factor importante era o número de televisores. Quando passaram a comparar a sua vida com a das famílias ricas das ‘sitcoms’ e telenovelas, os africanos sentiram-se infelizes.
Recentemente, uma outra vaga de estudos tem-se debruçado sobre a felicidade local. Em vez da satisfação de vida das pessoas, tenta-se medir a sua felicidade em determinadas situações. No seu extremo, nestes estudos dá-se aos sujeitos agendas electrónicas que apitam de meia em meia hora e perguntam à pessoa o que está a fazer e quão feliz se sente nesse momento.
Descobriu-se que, ao contrário do que indicavam as medidas globais, trabalhar é das actividades que faz as pessoas mais infelizes, só superada por viajar para o trabalho. Em contrapartida, passar tempo com outras pessoas é a actividade que as deixa mais felizes a seguir a ter relações íntimas. Dentro das relações sociais estar com amigos é a mais gratificante, enquanto falar com o patrão é a mais penosa. No trabalho, pressão de prazos é o maior factor de infelicidade. Portanto, as pessoas gostam de ter um emprego, mas os momentos passados de facto a trabalhar não as deixam felizes. No mesmo sentido, descobriu-se que embora ter filhos seja associado a felicidade, o tempo passado a cuidar dos filhos não é particularmente feliz. A descoberta mais importante foi que aquilo que fez na última meia hora afecta a sua felicidade tanto quanto factores mais perenes como a sua riqueza, educação, ou saúde.
Quando avaliam a sua felicidade global, as pessoas comparam-se com os outros. Quando se lhes pergunta acerca da sua felicidade agora, são os acontecimentos recentes que contam mais e o tempo passado com outras pessoas é o mais importante. Ler esta coluna talvez não lhe tenha trazido felicidade. Mas, estes estudos científicos permitem-lhe perceber o que faz as pessoas felizes.

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