segunda-feira, julho 17, 2006

Quem são os terroristas?

Publicado no Diário Económico a 21/2/2006

O mundo ocidental não é bem visto no Médio Oriente. De acordo com uma sondagem do Pew Research Center em Junho de 2005, na Jordânia apenas 21% dos inquiridos tinham uma visão favorável dos Estados Unidos. Este até é um número alto: em 2003, era só 1%. Em 2002, numa sondagem a 10.004 habitantes de 9 países maioritariamente muçulmanos, 78% afirmou que não acreditava que os terroristas do 11 de Setembro fossem árabes. 75% acham que os ataques foram justificados. A desconfiança em relação aos ocidentais chegou ao ponto de uma dúzia de caricaturas num obscuro jornal dinamarquês chegar para despoletar manifestações violentas. Nos últimos cinco anos, descobrimos que não faltam pessoas que odeiam o ocidente ao ponto de sacrificar a sua vida em ataques terroristas.
Dois artigos recentes no ”Journal of Economic Perspectives” descrevem os resultados empíricos de estudos dedicados a compreender as origens do terrorismo. Os dados usados nestes estudos estão longe de serem perfeitos e limitam-se a estabelecer correlações mas não conseguem provar relações causais. No entanto, são tão interessantes que vale a pena discuti-los.
No primeiro artigo, Krueger e Malecková investigam: quem são os terroristas? Sobretudo, qual é o papel da pobreza e da educação na criação de terroristas? Numa das partes mais originais do seu estudo, eles usam o jornal oficial do Hezbollah para obter o obituário dos membros que caíram em combate entre 1982 e 1994 (129 pessoas) e através daí inferir as suas características sociais. A mesma abordagem é usada para construir as biografias de 285 terroristas palestinianos publicadas nas revistas do Hamas entre 1987 e 2002, e de 27 terroristas israelitas que no início dos anos 80 assassinaram 23 palestinianos.
A análise destes dados gerou conclusões surpreendentes. Em comparação com o resto da população nesta região, é mais provável que um terrorista esteja acima da linha de pobreza. Os terroristas com maior probabilidade acabaram o ensino secundário e frequentaram a universidade. São também mais novos, tendo na sua maioria entre 18 e 25 anos. Os autores comparam os terroristas com o grupo de pessoas que se suicidaram durante estes anos nesta região. Os terroristas são, em média, mais jovens e mais ricos do que estes outros suicidas.
Na parte final do seu estudo, Krueger e Malecková usam dados sobre a origem de ataques terroristas no mundo inteiro entre 1997 e 2002. Os dados têm os seus problemas; por exemplo, o segundo país com maior número de atentados é a Colômbia, mas muitos deles ocorreram no combate ao narcotráfico. (Algumas pessoas que trabalham com estes dados disseram-me também que suspeitam que muitos dos ataques aos oleodutos e gasodutos colombianos foram financiados pelas empresas que reparam as condutas.) Para lidar com estes problemas, os investigadores concentraram-se apenas em ataques internacionais. Descobriram que quer a taxa de analfabetismo quer o PIB ‘per capita’ não prevêem o número de ataques terroristas, assim que se tem em conta outra variável: a restrição às liberdades civis. Países que restringem as liberdades dos seus cidadãos produzem terroristas, sejam eles ricos e educados ou não.
No segundo estudo, Gentzkow e Shapiro concentram-se nas sondagens descritas no primeiro parágrafo. Usando outras perguntas nas sondagens sobre a frequência de uso dos media e o nível de escolaridade, eles tentam determinar o impacto que a informação e a escolaridade têm nas percepções das pessoas. Descobriram que nem o acesso aos media nem a educação têm qualquer impacto nas percepções. No entanto, quando separaram o acesso aos media entre ver a cadeia Al-Jazeera ou a CNN, descobriram que as pessoas que vêm a Al-Jazeera com maior probabilidade não gostam de americanos e acreditam que o 11 de Setembro foi justificado e executado por não-árabes.
Estes resultados têm implicações políticas. George Bush tem defendido que as fontes do terrorismo são a pobreza e a ignorância. Estes estudos mostram que os terroristas não são os pobres e os pouco educados; antes, são jovens radicais universitários sem dificuldades financeiras. Uma política mais subtil e talvez mais eficaz para combater o terrorismo seria subsidiar a expansão da CNN, da BBC, e de outros media ocidentais no Médio Oriente.

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