segunda-feira, julho 17, 2006

O drama do desemprego

Publicado no Diário Económico a 2/5/2006

É comum dizer-se que o desemprego é um dos maiores flagelos das sociedades modernas. Este é um dos poucos pontos em que as ideologias concordam: a esquerda radical vê no desemprego a prova do falhanço do capitalismo; a direita fascista exige autoridade e poder, prometendo emprego para todos em troca; e a social-democracia criou o Estado-providência em grande parte para zelar pelo bem-estar dos desempregados.
Em Fevereiro, a taxa de desemprego em Portugal foi 7,7%, quando em 2000 era 4.1%. (Os números de Março estão envolvidos em polémica.) Porém, há quem argumente que este número até não é muito alto. A taxa de desemprego na União Europeia é maior, 8,2%. Para além disso, a taxa actual está menos de 2% acima da média portuguesa dos últimos 20 anos.
No entanto, o que faz do desemprego um flagelo é a sua duração. O drama em causa é o das pessoas que estão mais de um ano sem encontrar trabalho, passando por dificuldades financeiras graves e por exclusão social. Não é preocupante, mas antes normal e benéfico, que as pessoas passem por episódios breves de desemprego enquanto fazem a transição da escola para o mercado de trabalho, ou quando saltam de um emprego para outro. Para avaliar a situação presente, o mais importante é perceber por quanto tempo é que o desemprego se vai manter alto.
A conclusão de vários estudos é que o desemprego tende a subir rapidamente mas a descer lentamente. Esta tendência é mais forte nos países europeus, como é ilustrado pelos exemplos marcantes da Alemanha ou da Espanha que ainda hoje não voltaram aos níveis de desemprego do final dos anos 80. Portugal não é uma excepção a esta regra.
Algumas teorias económicas explicam porque é que episódios de desemprego alto tendem a persistir. Uma primeira explicação aponta o dedo aos sindicatos e aos salários altos. Os que têm emprego, os ‘insiders’, insistem em subidas salariais, apesar de haver filas de desempregados, os ‘outsiders’, que as empresas estariam dispostas a contratar por um salário mais baixo. Através dos sindicatos, os ‘insiders’ impõem os seus interesses. Ao fazê-lo, impedem o emprego dos ‘outsiders’.
Uma segunda explicação realça o papel do desemprego de longa duração. Uma pessoa que esteja desempregada há algum tempo vê as suas competências e capacidades deteriorarem-se, ou porque perde rotinas e métodos de trabalho, ou porque não se mantém a par com as novas tecnologias. Para além disso, estas pessoas ficam frequentemente desmotivadas ou habituam-se a viver de subsídios, deixando de se esforçar na procura de emprego. Por ambos os motivos, os desempregados de longa duração têm mais dificuldades em encontrar trabalho. Ora, quando a taxa de desemprego sobe, aumenta a probabilidade de ficar desempregado mais tempo. Mais desempregados de longa duração, que só encontram trabalho lentamente, levam a que a taxa alta de desemprego persista.
Uma terceira explicação nota que, no mercado de trabalho, empresas e empregados precisam de alguns meses juntos para perceberem se ambos ficam a ganhar com o posto de trabalho. Como tal, é normal que muitos empregos só durem alguns meses, da mesma forma que é normal que muitos namoros só demorem alguns meses. É normal que uma pessoa inicialmente salte de emprego em emprego, e uma empresa de trabalhador em trabalhador, até que encontrem um bom parceiro. Por isso, demora tempo até que o desemprego baixe definitivamente.
Como é que o caso português se enquadra nestas explicações? Em primeiro lugar, a subida nos salários em Portugal de 2000 a 2005 excedeu em mais de 20% a subida na produtividade. Isto, enquanto o desemprego subia! Os ‘insiders’ dominam. Em segundo lugar, em 2004, 43% dos desempregados estavam à procura de emprego há mais de um ano. A duração média de um período de desemprego é 3 vezes maior em Portugal do que nos EUA. Em terceiro lugar, porque é muito custoso despedir um trabalhador em Portugal, a transição dos trabalhos esporádicos para vínculos definitivos é muito mais longa. Só quando uma empresa está certa que o trabalhador é mesmo ideal, é que compensa contratá-lo em definitivo.
A subida do desemprego em Portugal é preocupante. É de esperar que o desemprego se mantenha alto e o mau estado das contas públicas não permite grandes apoios por parte do Estado. O drama já se começa a sentir, e vai piorar antes de melhorar.

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