segunda-feira, julho 17, 2006

A performance das mulheres

Publicado no Diário Económico a 21/3/2006

As mulheres portuguesas têm hoje oportunidades de que não dispunham há 50 anos atrás. Elas têm os mesmos direitos democráticos que os homens, são a maioria dos alunos no ensino superior, e estão presentes em todas as profissões. No entanto, paradoxalmente, nas profissões mais competitivas e respeitadas, as mulheres estão brutalmente sub-representadas. Praticamente não há mulheres na lista das 500 pessoas mais ricas, nem nos quadros superiores da maioria das empresas, nem no Conselho de Ministros ou na Assembleia da República, nem entre os professores catedráticos. Este fenómeno não é exclusivamente português. Por exemplo, nos Estados Unidos, entre os 5 executivos mais bem pagos em cada empresa numa amostra de centenas, apenas 2.5% são mulheres. Enquanto nos outros cargos, existe uma situação próxima da paridade, nas carreiras de topo há poucas mulheres.
Uma explicação é que os homens intencionalmente sabotam a carreira das mulheres. Para explicar a diferença entre empregos médios e de topo, é preciso no entanto que a sabotagem seja maior no topo. Se a discriminação contra as mulheres fosse generalizada, então não se observaria uma diferença entre cargos. Antes pelo contrário, como nos cargos de topo, o sucesso é mais recompensado e a pressão para ganhar é maior, discriminar é mais custoso, pelo que deveríamos ver menos, e não mais, discriminação.
Outra explicação é que as mulheres carregam mais responsabilidades familiares. As profissões de topo exigem mais entrega, dedicação, e horas de trabalho longas, que as mulheres não podem oferecer se tiverem que sozinhas conciliar a gestão da família e a gestão das suas carreiras. Esta hipótese é plausível, mas até hoje poucos estudos conseguiram quantificar qual a fracção da desigualdade entre homens e mulheres que ela consegue explicar. Não devemos parar aqui.
A economista Muriel Nierdele e colegas recentemente sugeriram uma nova hipótese. Será que as mulheres são menos competitivas do que os homens? Estes investigadores conduziram experiências nas quais davam a cada uma de 6 pessoas numa sala (3 homens e 3 mulheres), 15 minutos para resolver diferentes labirintos. Inicialmente pagaram às cobaias em função do número de labirintos que resolviam. Neste sistema de pagamento à peça, os homens ganhavam ligeiramente mais do que as mulheres. De seguida, pediram-lhes para jogar de novo mas agora só ganhava dinheiro quem resolvesse mais labirintos. Com a introdução de competição, descobriram que enquanto os homens se esforçavam mais e resolviam mais labirintos, a performance das mulheres mantinha-se constante ou baixava ligeiramente. De seguida, os economistas criaram grupos com pessoas do mesmo sexo. O desempenho dos homens era igual quando jogavam contra mulheres ou homens. Mas a ‘performance’ das mulheres era muito melhor quando jogavam contra outras mulheres em vez de homens. Noutra experiência puseram grupos com todos do mesmo sexo a jogar com pagamento à peça. As performances de homens e mulheres eram idênticas.
A conclusão parece ser: as mulheres têm desempenhos mais fracos quando competem com homens. A explicação para este resultado pode estar na biologia – as mulheres coíbem-se de competir com homens para os atraírem para a reprodução; nas regras de conduta social – as mulheres são ensinadas a não competir com homens; ou na sua identidade social – as mulheres acreditam que os homens são melhores do que elas e por isso esforçam-se menos em situações de competição.
Estas explicações sugerem soluções eficazes para o problema. Por exemplo, se a causa é a responsabilidade com as crianças, então a solução talvez seja subsidiar o acesso a creches e ‘baby-sitters’. Se o problema é a competição, então um remédio eficaz são as escolas só para raparigas. Se nos anos formativos do ensino preparatório e secundário, as raparigas têm muito melhor ‘performance’ sem rapazes por perto, então talvez valha a pena. Podemos ir mais longe, uma das melhores universidades norte-americanas, Wellesley, só admite mulheres e tem tido muito sucesso no seu objectivo: criar mulheres independentes e afirmadas. Entre as ex-alunas estão, por exemplo, Hillary Clinton ou Madeleine Albright. Em comparação, a introdução de quotas para mulheres é uma política grosseira e potencialmente contraproducente para atacar as raízes da desigualdade.

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