segunda-feira, março 19, 2007

Livros para 2007

Publicado no Diário Económico a 26/12/2006.

O meu emprego como académico não é propício ao desenvolvimento das minhas competências sociais. A minha personalidade e educação também não ajudam: Estou sempre mais disposto a discutir o último artigo de economia que li, em vez do último filme que vi. Quando conheço alguém, tento logo perceber se é esperto mas só ao 3º ou 4º encontro é que reparo se é atraente. Por fim, tenho uma tendência irresistível de interromper qualquer pessoa com quem falo, desde o polícia ao médico, para lhe apontar que o que está a dizer não faz sentido nenhum.

De acordo com a minha consciência, que também responde pelo nome esposa, no meu último artigo no DE ultrapassei os limites da inaptidão social. Um dia depois do Natal, escrever sobre a corrupção na ONU e as falhas de carácter de Kofi Annan! Ela explicou-me que, nesta altura, é costume escrever-se contos natalícios, balanços do ano, ou então talvez sugestões de prendas. Quero-me redimir, mas não tenho o talento do João César das Neves para escrever contos, nem a memória do Marcelo Rebelo de Sousa para fazer balanços. Vou optar pelas prendas.

Eu sei: o Natal já foi, e não há mais dinheiro para prendas. Por isso, vou antes sugerir os meus 6 livros preferidos de economia para comprar e ler durante 2007. Não são os livros mais importantes na teoria económica, nada de Adam Smith, Marshall, ou Keynes, nem sequer os que tiveram mais influência fora da economia, como Marx ou Hayek. Antes, são livros simples de ler mas profundos no conteúdo, com muitas lições acessíveis a qualquer pessoa curiosa e inteligente. Já os li e reli muitas vezes, sobretudo para tentar melhorar a minha escrita para estas colunas no DE. (Se o resultado é a tristeza que vê, garanto que a culpa é do aluno, não dos mestres.)

1. “Eat the Rich” de P. J. O’Rourke. O autor foi colunista da ‘Rolling Stone’ e um correspondente internacional. É um jornalista perspicaz, dotado de um sentido de humor irresistível. Como exemplo, a descrição das origens da redistribuição e do Estado-social na Suécia, a bordo de uma nave viking depois de um ataque: “Pergunta o chefe: Lars, quantas mulheres violaste? E tu Sven? Ok, como o Sven violou mais 5, o Lars viola o Sven.”

2. “The Armchair Economist” de Steven E. Landsburg. O “Freakonomics” é um livro engraçado, cheio de factos curiosos, mas com pouca economia. O “Economista Disfarçado” está bem escrito, mas usa a ciência económica de uma forma algo superficial. Na categoria de livros de economia sobre tópicos do dia-a-dia, desde o sexo ao preço do cinema, o rei indiscutível é o “Armchair Economist”.

3. “Capitalismo e Liberdade” de Milton Friedman. Talvez o maior génio da economia do século XX, no seu melhor livro. A agenda política é clara: convencê-lo das vantagens do liberalismo. Mas, independentemente das suas opiniões, a clareza e poder dos argumentos são de tirar a respiração.

4. “Hard Heads, Soft Hearts” de Alan S. Blinder. A economia ensina a ter respeito pela força do mercado e dos incentivos, a procurar a eficiência, e a suspeitar da capacidade de governos conseguirem corrigir por decreto os males do mundo. Mas, é possível ter a cabeça dura na abordagem aos problemas e, ao mesmo tempo, ter o coração mole para com os desprotegidos. Se o livro de Friedman foi a “bíblia” de Ronald Reagan, o livro de Blinder guiou o melhor da administração Clinton.

5. “Peddling Prosperity” de Paul Krugman. Antes de se transformar num colunista bi-semanal do New York Times, Paul Krugman conseguia a proeza rara de ser um dos melhores escritores em economia e, ao mesmo tempo, um claro candidato ao prémio Nobel. O prémio há-de chegar, mas por enquanto este livro ainda é o seu melhor.

6. “The Elusive Quest for Growth” de William Easterly. É o livro menos bem escrito nesta lista, mas também o mais corajoso. Easterly foi economista no Banco Mundial durante 20 anos. No livro, descreve como uma sucessão de políticas de desenvolvimento falharam miseravelmente e porquê. Este livro custou-lhe o emprego.

Boas leituras em 2007!

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