segunda-feira, março 19, 2007

Os mais altos ganham mais

Publicado no Diário Económico a 23/01/2007.

As pessoas mais altas são mais bem-sucedidas e ganham mais. Este facto já foi demonstrado dezenas de vezes em diferentes países, grupos, e épocas nos últimos 80 anos. De acordo com estimativas recentes, mais 2,5 centímetros de altura estão associados com um aumento entre 2 a 2,5% nos rendimentos. Para ter uma ideia relativa deste efeito, ser mais alto 20 cm. tem cerca do mesmo impacto que ser branco em vez de negro ou ser homem em vez de mulher.

As pessoas mais altas escolhem também profissões mais qualificadas. A diferença na altura média entre trabalhadores de escritório e trabalhadores de oficina nos EUA é 2,5 centímetros. No Reino Unido, entre os homens de 30 anos, os gestores têm em média mais 1,5 centímetros do que os trabalhadores manuais.

Até agora tinham sido avançadas três hipóteses sociais para estes factos. Primeiro, talvez as pessoas mais altas ganhem maior auto-estima, e esta auto-confiança ajuda no mercado de trabalho. Segundo, talvez uma pessoa alta adquira normalmente alguma “dominância social” sobre os mais baixos, e esta posição de liderança ajuda em situações de negociação e a alcançar posições de poder. Por fim, talvez haja simplesmente discriminação contra os mais baixos.

Em 2004, um grupo de economistas, Persico, Postlewaite e Silverman, trouxeram novos dados para o problema. Eles observaram que a altura de uma pessoa como adulto está fortemente relacionada com a altura enquanto adolescente. No entanto, esta correlação não é perfeita, pelo que podemos distinguir qual das duas alturas determina os rendimentos em adulto. Usando dados para os EUA, os investigadores descobriram que é a altura em adolescente que domina. Após se ter em conta o efeito desta, a altura em adulto não tem quase nenhum efeito nos rendimentos.

Persico e colegas investigaram mais e descobriram que cerca de metade do efeito da altura enquanto adolescente nos rendimentos enquanto adulto opera pela participação em actividades desportivas. Há muito que se diz que a prática de desporto durante a adolescência cultiva o sentido de disciplina, organização, trabalho de equipa, e capacidade de liderança. Estas competências são parte do que normalmente se chama capital humano. Porque os mais altos têm tendência a fazer mais desporto enquanto adolescentes, adquirem mais destas competências que depois os ajudam a ser mais bem-sucedidos enquanto adultos.

As economistas Anne Case e Christina Paxson recentemente criticaram estes resultados. Elas começam por notar que a correlação entre a altura aos 3 anos e a altura aos 30 anos é grande (0,7). Seguindo uma estratégia semelhante à de Persico e colegas, elas descobriram que é a altura aos 3 anos (e não aos 16 ou aos 30) que determina os rendimentos futuros. Este resultado é importante para este debate porque, aos 3 anos, os mecanismos sociais descritos acima (auto-imagem, dominância social, discriminação) muito provavelmente ainda não estão presentes.

Case e Paxson propõem por isso uma hipótese diferente: os mais altos são mais espertos. Elas usam vários testes cognitivos em diferentes idades para descobrir que, a partir dos 3 anos, as crianças mais altas têm melhores resultados.

Esta explicação é tudo menos politicamente correcta. Mas repare que a conclusão não é que esperteza e altura são ambas genéticas. Os poucos estudos desta hipótese (usando irmãos e gémeos) têm descoberto pouca relação entre a parte da altura determinada pelos genes e as capacidades cognitivas. Case e Paxson preferem atribuir o efeito à nutrição entre os 0 e os 3 anos (embora as provas sejam limitadas).

Já sabíamos que a nutrição nos primeiros anos tem um grande efeito na altura e na inteligência inicial. Ficamos agora a saber que também influencia a inteligência e rendimentos enquanto adulto. Para terminar, um aviso: há muitos outros factores que determinam o sucesso e há muitos génios com metro e meio. Desvendar um pouco do que está por detrás do sucesso profissional não implica explicar tudo, nem sequer a maioria das razões. (Declaração de interesses: meço 1,76 m.)

1 comentário:

Anónimo disse...

Olha, tenho 1,96m e minha vida profissional tem decolado. Creio que a estatura elevada com umas pitadas de preparo seja a verdadeira resposta.