domingo, dezembro 09, 2007

A escola dá saúde

Publicado no Diário Económico a 31/7/2007.

As pessoas com mais anos de escolaridade vivem mais tempo. Este facto incontroverso, por si só não é surpreendente. Mais interessante é que a correlação positiva entre anos na escola e anos de vida está presente mesmo depois de se controlar os efeitos da riqueza, raça ou classe. Pode-se interpretar esta ligação de três formas.

Primeiro, talvez mais educação leve a mais saúde. Este seria o caso se, por exemplo, as pessoas mais educadas tiverem melhor acesso a informação sobre como cuidar dos seus corpos. Alternativamente, talvez a educação traga autodisciplina e resistência às tentações que prejudicam a saúde. Existem alguns estudos em medicina que acompanham pacientes que têm de seguir tratamentos rígidos em casa, por exemplo tomando um remédio ou fazendo um certo exercício todos os dias. Estes estudos descobrem que o número de anos de escolaridade prevê com alguma certeza quais os pacientes que seguem os tratamentos.

Segundo, talvez as pessoas mais saudáveis fiquem mais anos na escola. Uma das razões para o abandono escolar pode ser a falta de saúde do aluno. Um argumento mais economista propõe que, se eu espero viver mais anos, tenho maior incentivo para ficar na escola e investir no meu capital humano, pois terei mais anos de trabalho e vida durante os quais posso pôr esse capital a render.

Terceiro, talvez haja um outro factor que causa quer a longevidade, quer a escolaridade. Os dados indicam que a riqueza da família da pessoa, a classe socio-económica a que pertence, ou a sua raça e sexo não eliminam a relação entre saúde e educação. Outras características que já foram excluídas são a saúde dos pais e o estado marital, o acesso financeiro a hospitais e seguros de saúde, ou os comportamentos de risco, como fumar, fazer pouco exercício, ou exercer profissões perigosas. No entanto, é muito difícil eliminar a hipótese de que exista alguma característica genética que torna as pessoas simultaneamente mais espertas e mais saudáveis.

Adriana Lleras-Muney, uma jovem estrela no campo da economia, debruçou-se sobre este problema na sua tese de doutoramento na Universidade de Columbia. O ponto de partida foi o aumento na escolaridade obrigatória em 30 estados americanos, entre 1915 e 1939. Alguns foram de 0 para 4 anos, outros 6 para 8, e no Utah chegou-se aos 10 anos já em 1921. Estas mudanças implicaram que, olhando para dois irmãos em tudo idênticos para além da idade, nalguns casos o mais novo ficou na escola mais 4 anos do que o mais velho.

A ideia de Lleras-Muney é comparar a esperança de vida destes dois irmãos fictícios. Na prática, ela calcula a sua esperança de vida de duas gerações, imediatamente antes e após uma mudança de lei. Relacionando o aumento no número de anos de escola da geração mais nova e a mudança na sua esperança de vida, Lleras-Muney estima que cada ano a mais na escola aumenta a esperança de vida aos 35 anos em 1,5 anos.

Esta estimativa suporta a primeira interpretação acima: é a escola que causa saúde. O aumento na escolaridade obrigatória teve um efeito directo nos anos que muitos passaram na escola, mas é difícil ver que efeito teria na saúde por outro meio que não a escola. Apesar das mudanças na lei, na altura não havia almoços grátis na escola, e Lleras-Muney toma em conta as melhoria no numero de médicos per capita, nas despesas totais em saúde e educação, e nos salários médios. Todos os jovens eram obrigados a ir para a escola, não apenas os mais saudáveis ou mais ricos.

Também é difícil ver qual seria o terceiro factor, que possa causar maior saúde ao mesmo tempo que a escolaridade aumentava. Repare que diferentes estados aumentaram a idade limite em diferentes anos. É implausível que as possíveis melhorias na medicina durante esta altura tivessem coincidido exactamente com a passagem das leis.

Neste tempo de férias, em que alguns pensam se devem estudar mais ou entrar no mercado de trabalho, fica este dado. Mais anos na escola não só aumentam os esperados rendimentos futuros, como podem fazer mais pela sua saúde do que muitas dietas e horas no ginásio.

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