domingo, dezembro 09, 2007

Os melhores ministros

Publicado no Diário Económico a 28/8/2007.

Recentemente, li na imprensa sugestões que Teixeira dos Santos é o melhor ministro das finanças desde o 25 de Abril. Será?

Nos anos 60, Arthur Okun criou um famoso “índice da miséria” para julgar governos. Primeiro, calcula-se a diferença entre a taxa de inflação média durante o mandato e no ano anterior à tomada de posse. Depois, faz-se o mesmo em relação à taxa de desemprego. Por fim, somam-se os dois números. Um valor alto do índice mostra que, durante o mandato, aumentou a miséria com a subida da inflação e do desemprego.

Há poucos anos, Robert Barro reviu este exercício acrescentando dois indicadores à soma. Primeiro, considerou também uma medida da subida na riqueza do país, a diferença entre a taxa média de crescimento dos rendimentos (PIB) nas últimas décadas e durante o mandato. Segundo, acrescentou a mudança nas taxas de juro de longo prazo, pois juros baixos reflectem confiança dos investidores no país e estimulam a economia.

Para julgar ministros das finanças, em vez de governos, pareceu-me melhor acrescentar dois outros indicadores à inflação e ao desemprego. Primeiro, a taxa de crescimento do rendimento disponível das famílias, que subtrai ao PIB a carga fiscal. Porque o ministro das finanças é o responsável pela política fiscal, um ministro que retire mais aos cidadãos em impostos deve ser penalizado. Segundo, a mudança no défice das contas públicas. Mesmo que a causa do défice sejam as despesas de outros ministros, cabe ao ministro das finanças zelar pelo equilíbrio das contas do Estado. Um bom ministro não atira dívidas pesadas para os ombros do seu sucessor.

Estes 3 índices são, como todos os ‘rankings’, subjectivos e parciais. Comparar ministros usando a performance da economia é tão justo quanto comparar escolas secundárias usando as notas médias dos alunos nos exames nacionais. Particularmente doloroso para as pessoas em causa, um ‘ranking’ julga os resultados sem ter em conta as circunstâncias. É injusto comparar Ernâni Lopes, que lidou com um país em crise, com Sousa Franco, que herdou uma situação de prosperidade. Para além disso, é difícil distinguir o mérito do ministro das finanças daquele que é devido a todo o governo.

Apesar destas ressalvas, vejamos os resultados. Desde o 25 de Abril, considerei os ministros das finanças que estiveram no cargo pelo menos dois anos. São só seis, para os quais obtive dados trimestrais. Quer se use o meu índice, o de Okun ou o de Barro, há claramente dois líderes, dois maus, e dois no meio.

Os melhores: O melhor ministro, a uma grande distância de todos os outros, foi Miguel Cadilhe (85-89). O desemprego baixou 2% durante o seu mandato, a inflação quase 5%, e o rendimento disponível subiu quase 2% acima da média. Em segundo lugar, longe de Cadilhe, mas bem à frente dos outros, está Sousa Franco (95-99), também com nota positiva em todos os indicadores, embora só ligeiramente no controlo do défice.

Os piores: Ernâni Lopes (83-85) tem a pior performance, mas enfrentou maiores desafios que qualquer outro. Muito má também é Manuela Ferreira Leite (02-04), com a subida no desemprego e a redução no crescimento em quase 2%, para além do descontrolo das contas públicas. Não fosse a inflação estável (que, com o Euro, depende do BCE e pouco da ministra) e Ferreira Leite seria mesmo a pior ministra das finanças desde o 25 de Abril.

No meio: Aqui estão Braga de Macedo (91-93) e Teixeira dos Santos (05-…). Dependendo de ligeiras mudanças nos critérios, quer um quer outro surgem à frente. Se a economia melhorar, como se prevê para os próximos dois anos, e a regularização do défice for alcançada, Teixeira dos Santos deverá ganhar o último lugar no pódio, mas é improvável que alcance os dois líderes.

Aprendi com os psicólogos que a memória das pessoas é imperfeita, tendendo a fixar experiências intensas e recentes. Isto talvez explique porque é que alguns sugerem que Teixeira dos Santos é o melhor. Depois do desastre durante Ferreira Leite, bem vivo na memória, o bom desempenho de Teixeira dos Santos parece óptimo.

Sem comentários: