sábado, abril 05, 2008

Alternativas e os media

Publicado no Diário Económico a 25/03/2008.

Uma lição que se aprende em economia é o conceito do custo de oportunidade. Embora não tenha de pagar sequer um euro para ver uma exposição grátis, esta não deixa de ter um custo: perde a oportunidade de fazer outra coisa durante o tempo que lá está. Este conceito é simples, mas torna-se poderoso porque põe o ênfase na consideração da alternativa.

Na minha coluna de há duas semanas atrás, descrevi uma pesquisa de dois economistas que mostrou que o efeito da televisão na inteligência das crianças pequenas é em média positivo. Vários leitores comentaram que isso não podia ser verdade: se a criança pode antes ir a um museu, ou brincar com um ‘puzzle’, ver televisão tem de ser mau. O erro, neste caso, está na consideração da alternativa. Um detalhe importante que não revelei é que, numa das suas análises, os investigadores usaram uma medida do tempo que os pais passavam a ler às crianças para mostrar que o efeito da televisão é benéfico sobretudo nos lares onde se lê pouco. A alternativa à televisão nesses lares provavelmente é bem menos educacional do que os programas televisivos que as crianças vêem.

Uma acusação que se faz aos media, e à televisão em particular, é que enfraquece as redes sociais. Num livro famoso publicado em 2000, “Bowling Alone”, Robert Putnam notou que desde 1950, as famílias americanas passam cada vez menos horas em actividades comunitárias. (Daí o titulo, “ir jogar ‘bowling’ sozinho”, uma actividade que normalmente se faz com amigos.) Uma das hipóteses que Putnam avançou era que a televisão levou a que as pessoas passassem a entreter-se sozinhas. É difícil avaliar se isto é verdade, primeiro, porque a televisão é apenas uma das muitas coisas que mudaram desde 1950, e segundo porque não é fácil excluir a presença de um terceiro factor que leve as pessoas a simultaneamente preferirem ver mais televisão e passar menos tempo com os amigos, sem que o primeiro cause o segundo.

O economista Ben Olken testou a hipótese de Putnam de uma forma criativa. A geografia da ilha de Java na Indonésia é muito montanhosa, o que implica que nalgumas zonas o sinal da televisão e rádio é fraco ou inexistente. Por isso, podemos usar esta variação geográfica para comparar dois lares idênticos num conjunto de outras variáveis, que só diferem no acesso a televisão e rádio. Como esperado, os lares com melhor recepção vêem mais televisão. Mais interessante, a hipótese de Putnam confirma-se, pois nos lares onde se vê mais televisão e rádio, participa-se bastante menos em actividades sociais, como associações de pais ou grémios de moradores. No caso destes adultos, o custo de alternativa é menos investimento na comunidade.

Num terceiro estudo, Della Vigna e Dahl investigaram outra questão controversa com os media: o efeito dos filmes violentos no crime. Muitas pessoas diriam que filmes violentos encorajam as pessoas a cometer actos violentos. No entanto, estes economistas descobriram o contrário: nas três semanas após a estreia de um filme violento, não há grande efeito no número de crimes, mas no dia da estreia, entre as 18:00 e as 24:00, o número de crimes violentos cai cerca de 1,2%, e entre as 24:00 e as 6:00 cai cerca de 2%. Tendo em conta o número de filmes violentos que estreiam todos os anos, isto implica menos 1,000 crimes por fim-de-semana – um programa anti-crime super-eficaz.

Porquê? Novamente, pense na alternativa. As pessoas com mais apetência por cometer crimes provavelmente gostam de ir ver filmes violentos. Entre as 18:00 e as 24:00, estão a caminho, no regresso, ou na sala do cinema – logo “voluntariamente detidos”.

Por sua vez, porque não passaram este tempo a consumir álcool ou drogas, a probabilidade de cometerem um crime entre a meia-noite e as 6 da manhã seguintes diminui. O cinema violento é uma alternativa ao crime.

Por fim, outro caso que envolve alternativas e os media: esta é a minha última coluna para o Diário Económico. Infelizmente para mim, outras alternativas exigem o meu tempo nesta altura. Felizmente para o leitor, pode encontrar nas páginas deste jornal óptimas alternativas.

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