sábado, abril 05, 2008

Educação

Publicado no Diário Económico a 11/03/2008.

Uma das actividades mais fundamentais numa sociedade é a educação dos mais novos. Por isso, o nosso conhecimento sobre como fazê-lo parece sempre pouco.

Uma das coisas que sabemos é que o período que vai do nascimento até aos 2-3 anos é crucial. Vários estudos compararam os resultados de crianças com 2 ou 3 anos em testes básicos de inteligência com os resultados 20 anos depois. A forte correlação positiva entre os dois sugere que uma criança esperta de 2 anos tem boas hipóteses de ser um adulto esperto. Para além disso, esta correlação não parece dever-se apenas aos genes. Comparando gémeos órfãos idênticos colocados em lares adoptivos diferentes, o irmão que tem a sorte de calhar numa família mais rica e educada tem melhores resultados nos testes.

Infelizmente, nesta altura crucial da vida, a ciência pediátrica enfrenta sérias limitações. No método científico clássico, aprende-se usando experiências em que se dividem voluntários em dois grupos, se expõe um dos grupos mas não o outro a um tratamento, e se observa o efeito desse tratamento. Com os bebés, a ética e a lei proíbem a maior parte destas experiências. A pediatria é dos ramos da medicina que mais admiro, porque acho espantoso que tenha descoberto tanto, quando a investigação é tão mais difícil em relação a outros ramos da medicina.

Em contrapartida, as falhas no conhecimento nesta área têm sido exploradas por outras ciências. A psicologia é uma das mais bem-sucedidas, em parte porque as suas experiências com bebés são socialmente aceitáveis. Outra ciência é a economia, porque os economistas, em união com a estatística, são quem mais desenvolveu as ferramentas que permitem analisar dados que não vêm de experiências. O conjunto destas ferramentas chama-se econometria, e uma das suas muitas aplicações é o estudo dos bebés.

Para começar com um exemplo negativo, depois de centenas de estudos que correlacionaram o Q.I. dos bebés com tudo e mais alguma coisa, médicos e psicólogos concluíram que dois factores aumentam a inteligência dos bebés: serem amamentados, e serem bilingues. Estes resultados criaram uma obsessão mundial em encorajar as mães a amamentarem os seus filhos. A econometria ensina-nos que há boas razões para duvidar destes resultados. Nos dados americanos usados nestes estudos, quem amamenta são sobretudo mães de famílias com maiores rendimentos que escolhem ficar em casa com os filhos, ou mulheres com educação superior e empregos com alguma flexibilidade horária. A mãe pobre e solteira com um emprego num supermercado durante o dia e no McDonald’s à noite não tem possibilidade de amamentar os seus filhos. Por isso, as supostas virtudes da amamentação materna são provavelmente apenas as virtudes da educação e da riqueza camufladas. Igualmente, as crianças bilingues são normalmente filhas de imigrantes com educação superior que investem muito na educação das crianças (os filhos de imigrantes pobres raramente conseguem ser bilingues fluentes).

Virando-me para dois exemplos mais positivos, uma parte significativa da inteligência aos 3 anos está relacionada com boa nutrição: dietas equilibradas nas creches parecem ter um efeito significativo na inteligência das crianças. Outro exemplo é a influência positiva da intervenção educativa cedo na vida das crianças, que tem encorajado países no mundo inteiro a investir em creches públicas.

Por fim, um exemplo mais surpreendente. Os pediatras afirmam peremptoriamente que ver televisão tem um efeito negativo no desenvolvimento das crianças. Mas dois economistas recentemente provaram que o oposto é verdade. Usando a variação no ano em que diferentes estados americanos tiveram acesso a televisão entre 1940 e 1955, e inquéritos sobre o tempo passado a ver televisão, eles mostram que na maioria dos casos a televisão não tem qualquer impacto na ‘performance’ em exames. Mas, nas famílias em que os pais não acabaram o ensino secundário ou não falam inglês em casa (uma minoria grande dos casos), a televisão tem um efeito claramente positivo na educação das crianças. Em média, por isso, o efeito da televisão na educação é positivo.

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