sábado, abril 05, 2008

O estado da economia norte-americana

Publicado no Diário Económico a 12/12/2007.

A probabilidade de uma recessão nos EUA no próximo ano é, na minha opinião, cerca de 40%. São três os eventos que podem levar à recessão, e cada um deles coloca um desafio distinto para a Reserva Federal.

1. O mercado imobiliário. Depois de ter subido cerca de 70% entre 2000 e 2006, o preço das casas nos EUA baixou 3,4% nos últimos 12 meses. É difícil prever o que vai acontecer nos próximos 12 meses, mas um ponto de referência é o rácio entre o preço de uma casa à venda e a sua renda no mercado de arrendamento. Para que o rácio entre preço e renda volte à sua média histórica, os preços das casas teriam de descer quase 50%. Embora as estimativas da resposta do consumo a uma redução de 1% no preço das casas sejam modestas, se a descida for antes de 20 ou 30%, será difícil evitar a recessão, independentemente das acções do Fed. O sector da construção já está com graves dificuldades, com uma quebra na construção de novas habitações de já cerca de 20%.

2. O mercado financeiro. A crise do ‘subprime’ causou grandes perdas no sector financeiro americano. Seguindo uma tradição que começou com Alan Greenspan, o Fed cortou as taxas de juro em reacção a estas perdas, e com isso prolongou a impressão no mercado de que estará sempre disposta a intervir em resposta a quedas no mercado financeiro. Só que isto, provavelmente, não é possível. Nos próximos 12 meses, as perdas podem-se acumular, sobretudo se se concretizarem as pressões políticas para alterar por lei alguns dos contratos de empréstimo imobiliário que estão a levar famílias de classe média à falência. O Fed vai muito depressa ficar sem espaço de manobra.

3. As dívidas pública e externa. Os EUA têm pedido dinheiro emprestado ao resto do mundo a um ritmo estonteante nos últimos dez anos. Enquanto que a economia americana crescia e os seus mercados financeiros davam retornos altos e estáveis, os estrangeiros estiveram dispostos a investir nos EUA. Mas, se os problemas financeiros se alastrarem e se o défice orçamental persistir, mais cedo ou mais tarde estes investidores vão querer o seu dinheiro de volta para investir noutro sítio. O dólar já caiu bastante nos últimos dois anos, mas pode cair ainda muito mais, e o Governo americano pode rapidamente enfrentar problemas em vender os seus títulos de dívida. Se este cenário (ainda improvável mas bem assustador) acontecer, o compromisso do Fed em manter a inflação baixa e estável vai ser seriamente testado.

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